Tuesday, December 30, 2008

Desejos, Verborragia de Charles, grandeza nova, e feliz!

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...


Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua
felicidade!"

Carlos Drummond de Andrade

Wednesday, December 17, 2008

Poesia, Vida Marginal, Terminal, Fortaleza, outros Destinos.

Entrevista devidamente controlvezada de, Pedro Rocha, do Grupo TR.E.M.A http://www.overmundo.com.br/perfis/pedro-rocha-grupo-trema

Chegou no terminal a uma hora da madruga, talvez menos. O corpo um pouco inclinado para frente, bigode amarelo, rosto surrado cor cinzas. Eu estava no terminal para mais um episódio da série Cadeiras com Rodas. Fiquei olhando. Sentou em um dos bancos de cimento do terminal, fechou os olhos e começou a cambalear levemente em uma pequena elipse. Sabia quem era. Como não? Valter di Lascio. Poeta. Como não? Freqüentador do Centro de Humanidades da UFC, da Uece, dos bares do bairro do Benfica, da Praia de Iracema... Vendedor chato de livretos de poesia sempre a lhe abordar em momentos inconvenientes.

BIS
COITO
COM
CHAMPAGNE
POESIAS DE VALTER Di LASCIO.

“Como não!? Aquele paulista que vive no Dragão do Mar a vender aquelas xerox. Algo como... Um poeta marginal! Isso.Um poeta marginal a andar pelas ruas de Fortaleza em pleno século XXI”.

De 48 anos. O universitário que foi pra Bahia, visitar uma figura, acabou ficando 15 dias na cada dela. Depois mais 15, foi bater em Ribeirão Preto. O curso de História na UNESP correndo... Mais quinze dias não vão fazer diferença. Minas... Há nove anos em Fortaleza. Sabe-se lá como chegou aqui... Passando agora, uns tempos, em Jericoacoara, reduto de turistas do mundo inteiro.
Dizem... que um dos homens mais assaltados em Fortaleza. Coisa de 50 vezes. Levam papéis, alguns livretos, desodorante, escova de dente, algumas poesias recém escritas. Morador do Terminal de ônibus do Papicu há algum tempo. Lugar seguro em Fortaleza. Por ali, no terminal, chegam alguns, quando se finda um dia e insiste em começar outro.

Fuma feito uma caipora. O bigode não nega. Bebe socialmente diariamente, tentando dar conta das demandas da street high society fortalezense. Dois meses sem beber por motivos de ordem médica.

Valter di Lascio. Como não? Tinha que entrevistá-lo.



Como que você vê sua condição de poeta marginal? Acredita nesse estereótipo?


Quem colocou esse estereótipo não fui eu. “Ah, porque você dorme no terminal”. Durmo no terminal. Durmo no terminal porque eu não tenho grana porra, só por isso. Se tivesse grana, claro que eu não ia tá dormindo no terminal. Quero escrever, não tenho condições de escrever legal. Quero trabalhar não posso. Tô querendo estudar não posso. Como que eu vou estudar no terminal? Não tem condições. Tô querendo trabalhar num projeto que são contos, fiz alguns contos e tal, mas pô, não tem condições, porra. Eu mal durmo. Eu cochilo, não durmo... Isso é uma conseqüência da própria cultura oficial porra. Se os caras não têm o hábito de ler, como toda hora eu tô escutando: “não gosto de ler”, “vixe, tem que ler?”. Quer dizer, se as pessoas não gostam de ler, não vendo. Se não vendo, não tenho como me manter. Tenho que tá na rua. Que nem agora, quero ir embora pra Jeri. O que acontece? Passo a noite, o que eu consigo de grana? Consigo de grana pra chegar no terminal comer, comprar cigarro, o básico. De manhã faço a merenda, no terminal, lógico, óbvio e vou pra rua. Vou pra Universidade, fazer cópia... Enfim, vou fazer o que eu tenho pra fazer. O que me sobra no dia seguinte é a grana pra refazer o material, às vezes não dá nem para almoçar.

A tua poesia é de subsistência?


Total, total, total... Por mim eu não venderia dessa forma que eu vendo. Por mim eu venderia o produto final, ele completo, o livro. O livro com 130 poemas, ilustrado, do jeito que foi feito.

Como tu produz esses livretos?


É feito num computador a matriz. Eu pago pra fazer, amigo meu faz, o que tiver mais fácil no momento. Se tiver dinheiro eu mando fazer, porque é aquela coisa às vezes o cara pega dinheiro pra fazer, na maior boa intenção. Porém, no entanto, o cara estuda, o cara trabalha, o cara tem a vida dele. Eu não posso ficar no pé dele cobrando: “Porra, você já fez? Quando você me entrega?”. Pô, o cara tá fazendo de graça, na maior boa vontade, e eu ainda vou ficar pegando no pé? Não é legal. Tenho que pagar. Eu fui fazer agora o cara me cobrou 1,50 por página. Depois que eu mandei fazer o cara chegou pra mim: “Porra, por que tu não falou comigo?”. Como é que eu vou saber? Eu não vou ficar perguntando de um por um, “você pode fazer?”, “você pode fazer?”. Então é feita a matriz no computador, depois tirado xerox. Custeado por mim.

Quais os pontos que tu mais vende?


Não tem os pontos que eu mais vendo, são os únicos que eu vendo. É Universidade, Ponte Metálica e Dragão do Mar.

Existe alguma coibição no Dragão do Mar?


Existe. Eu não tenho autorização. Agora que a segurança tá pegando no pé. Cheguei de Jeri agora, preciso vender, eles não tão deixando. Só pode vender na praça, se não for na praça eles vêm pegar no pé. Só nos bancos, ali eu posso vender. Debaixo do planetário eu não posso, próximo do cinema eu não posso, debaixo da passarela eu não posso. São dependências do Dragão do Mar. Onde é o limite, onde termina o Dragão do Mar e onde começa? Não sei, aliás nem eles [seguranças] sabem, é ordem superior, é ordem do chefe... Eles não questionam nada.

O que você acha desse tipo de proibição em um ponto cultural?

Totalmente imbecil. Se eu não posso vender um livro num centro que se diz de arte e cultura, porque eu não tenho a suposta autorização, eu vou vender aonde? Porra, no show do Calcinha Preta? Ou no Castelão em dia de jogo Ceará e Fortaleza? Não tem cabimento porra, invés de ser proibido devia ser incentivado. Quando eu converso isso ai com turista, o cara fica dizendo: “Porra, não pode”, se espantam. Por que que não pode? Vai perguntar pra ele porra. Nêgo vende o cacete a quatro lá, mas tem autorização. Não sei que porra de autorização é essa. Pra botar um crachazinho no peito? Não tem cabimento porra...

A tua relação com Fortaleza é opressora?

Ah sim, me incomoda. Eu não agüento mais viver em cidade grande, isso também em outras cidades grandes. Eu não consigo mais viver nessa neura. Nos meus textos, tu vai ver que tem toda uma temática urbana. Eu não consigo me imaginar escrevendo cordel, seria uma violência, seria eu massacrar o cordel. Então as informações que eu trago são outras, são influências urbanas.

Já tentou desistir da poesia?

Não, não pensei.

Por quê?

Você já pensou em parar de respirar?

Não.


Então, é a mesma coisa. É uma coisa vital. Não dá mais, chegou num ponto que não tem mais volta, agora é só continuar, onde vai dar não sei. Pelo menos não vai ficar que nem a Ponte Metálica. Espero que não, porque a Ponte Metálica é uma ponte surrealista, é uma ponte que não vai pra lugar nenhum. E não é uma ponte na realidade, porque toda ponte implica que você saia de um ponto A para um ponto B. Tem início e fim. Tá ultrapassando um obstáculo, né? Essa ponte não, ela só começa, não termina. Pra mim é um negócio surreal isso aí. Então eu não quero que meu trabalho fique assim, também interrompido, então eu vou continuando... Essa ponte minha vai continuando, aonde vai chegar não sei e não tô preocupado. O que eu quero, que fique bem claro, é paz e sossego, me deixar trabalhar sossegado, só isso porra.

Você tem compromisso com que valores?


É uma coisa que eu venho me questionando há muito tempo. O que realmente é importante pra você?

Pra mim?

Pra você que eu digo pra todos. Pra você também. Pra você é importante terminar o curso de jornalismo, ter uma profissão... Não sei se você quer carro, casa na praia, cacete a quatro. O que eu quero? Não quero carro, não quero porra nenhuma, o que eu quero é trabalhar sossegado, ter um canto pra poder trabalhar, pra poder receber meus amigos, viver um pouco dignamente. Não passar fome como eu passo, não passar sede como eu passo e isso não quer dizer luxo entendeu, continuo com minha havaiana no pé. Não quero 10 calças como eu tinha antigamente, não quero uma porrada de livros, o livro pra mim é outro lance que eu mudei meu relacionamento com ele. O que que adianta está com uma estante com uma porrada de livros apodrecendo lá se eu já li. Então, se você me dá um livro, como já aconteceu e tem acontecido, então... se você tá me dando, não espere que ele fique na minha mão. Não vai ficar. Já li? Já absorvi? Eu passo pra frente, porque eu prefiro que ele passe pra frente do que fique parado na estante. Quantas pessoas estão sendo privadas de ler enquanto ele tá privado na estante? Pessoas que não têm condições de comprar o livro. Isso é com tudo. Eu tô cada vez mais querendo o mínimo.

***

Pedi para que recitasse um poema (disponível em áudio). Insinuou um cachê para a entrevista ainda com o gravador ligado. Brincou. Queria receber em Euro. De alguma forma tinha que ajudá-lo. De alguma forma ia ter ganhos com a publicação do texto também. Dei 5 reais. Depois comprei mais dois livretos, por um real cada.

Encontrei Valter mais uma vez no terminal. Ainda tentava interar o dinheiro da passagem para Jeri. Reclamava que lhe faltava o que ler. Entreguei-lhe um livro que tinha prometido. Qualquer livro. Escolhi uma edição de bolso de “Numa fria” de Bukowski, sem atentar para a ironia do autor escolhido.

Depois, cruzei com ele mais uma vez nos arredores do Centro de Humanidades da UFC. Três vezes em pouco mais de uma semana. Como andava... Não o vi mais. Foi pra Jeri.

Sunday, November 30, 2008

FAIXA 05

Lá em casa (se esqueço)

eu, se lembro mais que esqueço,
eu se ia mais e menos ficava.
eu, se ria mais da desgraça,
eu se criava mais e menos queria.

eu, se via através de parede se virava e pulava da rede,
eu se perdia debaixo da lua, na rua, no pé do eixo profundo

e pisava mais Tu noutro mundo,
eu andava Mais tu e Menos Eu, lá em casa...

lá em casa... lá em casa...

Friday, November 21, 2008

C.L. diz:

O mundo parece chato mas eu sei que não é. Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Eu sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse às vezes o céu estivesse lá embaixo.

Wednesday, November 19, 2008

Dizê


"Não sou totalmente inútil, pelo menos sirvo de mau exemplo".

Tuesday, September 23, 2008

Cantiga Nueva

Meu amor evaporou


meu amor evaporou
se era meu, alguém soprou

meu amor evaporou
se era teu, aí ficou...


a cabeça é dura
mas o olho gira
faz o crescer num dia
o antes que não cabia

confundo com Ela
lamento e saudade
cantiga e viola
faz parecer vontade

fela apaixonado
lascado da sina
com a agonia em que vem
volta na mesma esquina

minha natureza
me deu unha e dente
não se faz ausente
nem quando fala a tristeza

a vela se apaga
o braço arrepia
vela acesa acende mais dez
de noite ou de dia

meu amor evaporou
se era meu, alguém soprou

meu amor evaporou
se era teu, aí ficou...

Sunday, September 21, 2008

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
A vida, assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
como essas nuvens do céu

E só ganhar, toda a vida,
inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
das outras vezes perdidas,

atiro a rosa do sonho
nas tuas mãos distraídas...


(Mário Quintana)

Thursday, September 11, 2008

Acorde de birimbal

multicor aval da carne cinza
labirinto de cheiro verde
encontro de casal na casa alêa de zé alguém que chega-já

caba com satanás atrás da idéia
tira acorde de birimbal
e colhe ipoméia de vez no quintal, bem meio-dia já

alegoria de menino maior
alegria em chegar perto só pra esculambar melhor

quem encontra, se perde
quem contempla, esquece

inutilidade gratuita
da mãozona que conforma a realidade com as palmas pálidas

que vai ao rosto e vai ao centro
que vai dormir e vai sonhar

abre e fecha a janela
abre e fecha janela
abre fecha janela
abre fecha

do ônibus.

Sunday, August 24, 2008

Cruz e Sousa

QUESTÃO BROCARDO

— Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe —
A cacholeta no chefe —
— Pife, pufe, pafe, pefe
Estoure como um tabefe
E o ventre de raiva entufe —
— Pife, pufe, pafe, pefe
Pafe, pefe, pife, pufe!

Tuesday, July 08, 2008

Sidarta

"E quanto aos Deuses: foi realmente Prajapati quem criou o mundo? E não o Átman? Ele, o único, indivisível? Não eram os deuses figuras criadas da mesma forma que tu e eu, perecíveis, dependentes do tempo? Seria, portanto, bom e acertado oferecer sacrifícios aos deuses? Era isso realmente uma atividade sensata, sublime? Quem merecia imolações e reverência, senão Ele, o único, o Átman? E onde se podia encontrar o Átman, onde morava Ele, onde pulsava o Seu eterno coração, onde, a não ser no próprio eu, naquele âmago indestrutível que cada um trazia em si? Não era nem carne nem osso, nem pensamento nem consciência, segundo afirmavam os mais sábios. Onde, onde existia então? Para chegar até ele, até o eu, até a mim; ao Átman - haveria qualquer outro caminho que valesse a pena procurar? Ai dele!, ninguém lhe indicava tal caminho, ninguém o conhecia, nem o pai, nem os mestres e os sábios, nem os sagrados cânticos do ritual dos sacrifícios! Tudo sabiam eles, os brâmanes com seus livros santificados; tudo sabiam; com tudo se preocupavam, com tudo e mais ainda, desde a criação do mundo e a origem da fala, dos alimentos, da aspiração e da exalação até às categorias dos sentidos e às façanhas dos deuses! Sabiam inúmeras coisas, mas que valor tinha toda essa sabedoria para quem ignorasse aquilo que era uno e único, o mais importante, ao lado do qual coisa alguma tinha importância?"

(Sidarta - Herman Hesse)*Átman: literalmente `fôlego`. Em sentido figurado: a força vital a personalidade, o eu, a alma, o princípio da vida.

Monday, July 07, 2008

O Xamã

O xamã é um ser sem regras, não sabe o que vai encontrar em seu caminho. Cada dia, cada momento vive para descobrir o maravilhoso e o horripilante. De uma ou de outra forma sabe que ambas são faces de sua própria visão. Não se apega porque sabe que tudo muda, que tudo é impermanente e se deleita com o desconhecido. O tédio não é parte de sua vida... Seu corpo é frágil porque lida com forças terríveis e magnificentes.Observa o universo como seu Pai e a Terra como sua Mãe...Vive em completo desapego, até o ponto de ser odiado... Odiado por não dar importância ao que os demais dão importância. O xamã sabe e só sorri, só olha, só observa.O xamã é produto do amadurecimento de um coração. Do amadurecimento do espírito. Somente um coração maduro entra no caminho do xamã e, uma vez que se entra, se dá conta de que o mesmo caminho, cedo ou tarde, fará com que seu coração desapareça na imensidão do coração desse maravilhoso universo.

(Autor desconhecido.)

Fonte: http://www.terramistica.com.br/index.php?add=Artigos&file=article&sid=14

Thursday, June 19, 2008

A Casa sempre vence.

o rock n´roll sempre foi um motivo, uma busca, uma curiosidade
que gerou fantasia em mim. um misto de euforia e tristeza, inovação e breguice, sensibilidade e porrada na orelha. fonte de uma noção de liberdade
.

lembro a primeira vez que ouvi Led Zeppelin.

foi numa fita cassete que o Augusto me emprestou.
ouvi as primeiras músicas, fui adiantando as faixas, e achava aquilo esquisito pra caramba - a música parecia gerar um estranhamento proposital em mim -, não gostei.

fiquei em parte decepcionado porque imaginava que ao curtir Led Zeppelin se revelariam a mim idéias, eu caminharia alguns degraus de sapiência a mais, e iria em direção a sala da compreensão acerca do mundo do rock, e, finalmente, A verdade divina do que significava ser adolescente , estar vivo, contemplar o milagre da vida, adivinhar meu futuro! É Rock, meu Patrão! Aleluia, irmão!

sei que em momentos raros reveleram-se alguns desses malditos significados. na realidade eu não sei. a maior parte, parece que nunca compreendi - algo como um Et camarada que eu sempre esperei que existisse, e no dia em que o danado aparece e acena com a cabeça na minha direção, lembro e esqueço num pequeno instante tanto do que queria viver, que torno a imaginar tudo o que não estivessi ali, e o Et some do jeito que aparece, do nada.

viajei.

mas voltando...
meses mais tarde ouvi o IV! um puta CD
que iria ouvir os próximos 10 anos, com direito aquela apreensão imediata de quando se ouve um bom rock´n roll e escuta pela primeira vez.

logo mais comprei o Houses Of The Holy por 10reais no Extra do Iguatemi, pouco tempo depois dele ser aberto - acredito que, ao contrário da maioria, não comprei pela Single balada 'The Rain', mas pela 'Dancing Days', minha preferida porque excitava mais a noção de uma vaidade indolete, um intento incerto, uma precipitação natural da vida, uma inclinação ao sentimento de liberdade.

'The Rain' achava linda, e ainda acho, mas é muito melosa.

Saturday, May 31, 2008

Coisas das Esfinges

VIVER NÃO É FÁCIL, mas andar pelas ruas desta minha amada cidade é muito mais difícil. Primeiro, porque os tufões que têm passado por aqui se empenharam particulamente em revolver o calçamento; depois, porque os automóveis têm aumentado de maneira considerável e, em matéria de trânsito, a tendência é caminharem os pedestres pelo meio da rua e trafegarem os automóveis pelas calçadas.
Mas, enfim, a cidade é tão bonita - sobretudo agora com as amendoeiras a perderem as folhas vermelhas e amarelas - que muita coisa se perdoa aos automóveis e aos tufões.
Acontece, porém, que os habitantes desta cidade (e nem todos são cariocas) se distinguem por uma invencível amabilidade, um desejo de comunicação difícil de explicar nestes tempos de pressa e indiferença. Quando menos se espera, alguém pára diante de nós, e pergnta com evidente satisfação pela charada que nos vai propor:
- A senhora não é Dona Fulana?
- Clari que sou.
- E eu? Lembra-se de mim? Sabe o meu nome?
Eis-nos em pleno deserto, diante da Esfinge. Começa-se a recordar: um cavalheiro assim, desta altura, com esta voz, de óculos, traje azul-marinho, aliança no dedo, gravata de pintinhas... (Mas todos os cavalheiros podem ter gravatas de pintinhas, traje azul-marinho, óculos, e há muitos cidadãos desta altura e até de aliança no dedo...)
- Pense um pouco, diz a Esfinge cruel.
Pensamos.
- Conheço-a desde o tempo de estudante, quando caminhava como quem pisa violetas... (Bem, deve ser um poeta: percorramos depressa o fichário dos poetas... Mas é impossível: não somos todos poetas no Brasil?)
A Esfinge diverte-se; aliás, com uma ponderação, uma cortesia, uma finura que assentam bem numa Esfinge.
- O senhor (murmura o suplente de Édipo), o senhor deve ser um famoso orador, um grande mestre, um deputado, um catedrático...
- Ah! como as mulheres esquecem... A senhora não se lembra de mim; e eu acompanho toda a sua vida, leio todos os seus livros, sei das suas viagens, das suas conferências (nem sempre compareço, é verdade, mas tenho notícia...) A senhora fixou apenas que sou uma criatura verbosa, retórica... Pois vou ajudá-la...
E então, como se subíssemos para um tapete mágico, principiamos a viajarn no tempo. Histórias e histórias se sucedem, jamais completamente verídicas, porém muito mais belas, por imaginárias e transcendentes. E nós por aqui e por ali, pisando violetas, colhendo estrelas, batendo asas, derramando neste mundo cornucópias de sonhos...
É preciso que um automóvel suba na calçada para descermos desse arrebatamento. E quase sempre a Esfinge parte sem nos dizer seu nome, deixando-nos apenas a sensação do irreal que somos, neste mundo de sonhos e memórias...


(Crônica retirada do livro 'Ilusões do Mundo', de Cecília Meireles)

Thursday, April 24, 2008

des tino de sistir -me, passar.




termino em mim uma alegria imensa que nunca passa.
sou desejo desse começo, sede de jamais terminar,
deixo aberto esse poema de fogo que reacendo no peito
quando é madrugada e desatina na sede de memória
uma casa branca que goza de tudo que nunca aconteceu.
pano de fundo,
plano de fulga da realidade em eterna espera de insistir:

lâmpada acesa perdida em sua luz.



.

Friday, March 21, 2008

Pros mesmos, enfático. Pra outros, 'outro'.

porquê não tornar um relacionamento mais amável,
uma amizade mais perpétua de gentileza, um ato de carinho declarado.

já nos é prometido que nalgum ponto há de haver um fim pro certo e o errado.
senão no instante da morte, em nada nos consta essa máxima de não-dever, não-viver, e não-amar.

nesse medo, que evita o desejo, aprofunda a solidão, que faz
do nosso hábito escravo e comandante dos mesmos trajetos,
artista sem paixão, sem novas cores, falho brilho no bocejo,

nessa tristeza, lentidão em viajar, movimentar, em viver, em sentir,
em toda agudeza precária persevera nossa humanidade.



de quanta aspereza de verdade e frieza de sentido,
ainda carece nossa vida pra que possamos dissuadir
com menos frieza de enchergar, nossa rigidez de amar?
.

Wednesday, March 19, 2008

Mussitação

caralho.

- folha em branco,
olho na folha,
alguma coisa escrita,
pouco a declarar,
engasgo da intuição.

me sinto um pouco mais leve, uf.

Saturday, March 15, 2008

Fragmento

Leporelo

É, o senhor me parece um homem difícil de converter. Bom, me diz aqui, qual é sua opnião sobre almas penadas?

Don Juan

Que o diabo as carregue.

Leporelo

(À parte) Essa descrença eu não posso aceitar. Não há nada mais vivo que uma alma penada. (Alto) A gente tem que acreditar em alguma coisa neste mundo - em que coisa o senho acredita?

Don Juan

Em que coisa eu acredito?

Leporelo

A pergunta é essa.

Don Juan

Eu acredito que dois e dois são quatro, Leporelo, e que quatro e quatro são oito.

Leporelo

Bela crença, essa aí! Então, pelo que vejo, sua religião é aritmética? É preciso reconhecer que a cabeça humana engendra tremendas besteiras. E que, em geral, quanto mais etudamos mais obtusos ficamos. Pois, comigo, que graças a Deus não estudei como o senhor, ninguém pode vangloriar-se de ter me ensinado nada. Mas, com meu diminuto bom senso e meu parco entendimento, vejo as coisas melhor do que todos os livros, e compreendo muito bem que este mundo que vemos não é um cogumelo que nasce sozinho no meio da noite. Eu gostaria muito de lhe perguntar quem fez essas árvores, essas rochas, essa terra, e esse céu que está lá em cima ou se todas essas coisas se fizeram sozinhas. O senhor, por exemplo, o senhor está aí, não está? O senhor se fez sozinho? Para o senhor ser feito não foi preciso seu pai engravidar sua mãe? Quando o senhor vê todas as invenções das quais se compõe a máquina do homem, o senho não se admira pela maneira como todas as peças se ajustam umas nas outras? Estes nervos, estes ossos, estas veias, estas artérias, estes... o pulmão, o coração, o fígado, e todos esses ingredientes que estão aqui e... Oh, danação, me interrompe um pouco, por favor. Ninguém pode discutir sem interrupção. O senhor fica calado de propósito - é de maldade que me deixa falar sozinho.

Don Juan

Espero que você termine o raciocínio.

Leporelo

Meu raciocínio é que, diga o senhor o que quiser, existe no homem uma coisa maravilhosa que nenhum sábio é capaz de explicar. Não é maravilhoso que eu tenha algum mistério na cabeça que me faz pensar cento e oitenta e quatro coisas diferentes no mesmo instante? E é capaz de fazer do meu corpo o que bem quer? Eu bato palmas, levanto os braços, ergo meus olhos para o céu, abaixo a cabeça, sapateio, vou pra direita, vou pra esquerda, pra frente, pra trás, giro... (Girando cai no chão).

Don Juan

Pronto, teu raciocínio acaba de quebrar a cara.

Leporelo

Desgraçado eu, por estar aqui tentando argumentar com o senhor. Creia em tudo ou em nada do que bem entender - a mim pouco me importa que o senhor vá para o inferno.

Don Juan

Mas, raciocinando tanto, acho que nos perdemos. Chama aquele homem lá embaixo e perguntar o caminho.

Leporelo

Olá! Olhe! O senhor aí! Tiozinho, vem cá! Amigo, uma palavrinha só!

Wednesday, February 20, 2008

Outro dia

tem um buraco nalgum canto do meu olho
que suga minha paz de espírito.
abro o olho - eu acordo -
e antes de abrir os olhos
já sinto um desassossego pousar.
acordar Noutro lugar
no Outro dia que não esse,
onde não sinta nem ausência
nem paz de espírito, isso me sugere plenitude.
Mas é minha imaginação fugaz e julgo equivocado,
- que constato dispersa no mundo -
nas sofreguidão das pessoas,
na nítidez das cores,
e no calor de certas horas,
que ainda me mantém de pé
e move minha esperança,
que enterram meus pés na lama
e fervem meu sossego.

Tuesday, February 05, 2008

Ouvir música

ouvir música não resolve
os problemas pessoais.

se assim fosse, o carnaval
estabeleceria determinado período
de graça entre as pessoas, eu não precisaria
comprar encordamento nas próximas dez
próximas encarnações, existiram mais fones de ouvido
que pessoas no mundo...

ouvir música,
no fone, no som,
no silêncio, na cor do dia,
- provar da sensação de estar -

não é como
estar com dinheiro sobrando,
ter a fórmula da coragem,
dizer a palavra certa pra expressar a quem amamos,
ou saber perdoar alguém no momento que nos magoa...

não é garantia de felicidade, solidão, estado de graça, compreensão...

ouvir música
é talvez uma 'garantia' que

nossa transição pelo mundo
não quesita em contratos de que
devemos ir além da efemeridade
que supomos da natureza que nos possui,
- nossa vida -

e que ela, A vida, se nos converte no minuto seguinte
com o carimbo insustentável do destino ou não,

é porque vibra latente dentro de nós,
e não no que nós vemos.

Thursday, January 31, 2008

Comparação

não adianta em que hora dizemos adeus,
ou volte logo,
logo estaremos sob a tutela da memória
que, embreagada de pudor,

obedece opiniosa ao julgo daquela data:
mesmo dia,
mesmo mês,
mesmo ano,
mesma coisa.