Tuesday, November 17, 2009

Receio e liberdade

"O medo de amar é como qualquer outro medo. Nos tira as asas que alçam voos pra lugares distintos do lugar comum, e nos devolve ao chão duro do destino, que segue em todas a direções."

Monday, January 26, 2009

post a l e t a ó r i o

Sonhei com uma árvore enorme.
Tinham duas clareiras entre as folhas,
uma era o semblante de Maria, com um manto sobre o cabelo,
e embaixo o semblante de Jesus, com os braços
esticados na horizontal.

Parar pra escrever é algo que reluto sem muito sucesso,
percebo. Volta e meia pula em mim um tipo, sentimento expansivo,
fragmento de idéia... aflora uma querência tal
que se alimenta do antes-não-observado.

Não o Irreal, mas o invisível,
o Real que não é visto.


já faz tempo que eu tô nessa
pra quê tanta pressa
se não vai ficar
se não vai querer

se sim,
então venha ver

que desejo bamba
sobe pelo pé
e escorrega da mão

Thursday, January 22, 2009

Lembrete

"Nunca deixo de ter em mente que o simples fato de existir já é divertido." (Katherine Hepburn)

Tuesday, December 30, 2008

Desejos, Verborragia de Charles, grandeza nova, e feliz!

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano
se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez com outro número e outra vontade de acreditar
que daqui para adiante vai ser diferente...

Para você,
Desejo todas as cores desta vida.
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar.
Para você neste novo ano,
Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
Que sua família esteja mais unida,
Que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas.
Mas nada seria suficiente...


Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos.
Desejos grandes e que eles possam te mover a cada minuto, ao rumo da sua
felicidade!"

Carlos Drummond de Andrade

Wednesday, December 17, 2008

Poesia, Vida Marginal, Terminal, Fortaleza, outros Destinos.

Entrevista devidamente controlvezada de, Pedro Rocha, do Grupo TR.E.M.A http://www.overmundo.com.br/perfis/pedro-rocha-grupo-trema

Chegou no terminal a uma hora da madruga, talvez menos. O corpo um pouco inclinado para frente, bigode amarelo, rosto surrado cor cinzas. Eu estava no terminal para mais um episódio da série Cadeiras com Rodas. Fiquei olhando. Sentou em um dos bancos de cimento do terminal, fechou os olhos e começou a cambalear levemente em uma pequena elipse. Sabia quem era. Como não? Valter di Lascio. Poeta. Como não? Freqüentador do Centro de Humanidades da UFC, da Uece, dos bares do bairro do Benfica, da Praia de Iracema... Vendedor chato de livretos de poesia sempre a lhe abordar em momentos inconvenientes.

BIS
COITO
COM
CHAMPAGNE
POESIAS DE VALTER Di LASCIO.

“Como não!? Aquele paulista que vive no Dragão do Mar a vender aquelas xerox. Algo como... Um poeta marginal! Isso.Um poeta marginal a andar pelas ruas de Fortaleza em pleno século XXI”.

De 48 anos. O universitário que foi pra Bahia, visitar uma figura, acabou ficando 15 dias na cada dela. Depois mais 15, foi bater em Ribeirão Preto. O curso de História na UNESP correndo... Mais quinze dias não vão fazer diferença. Minas... Há nove anos em Fortaleza. Sabe-se lá como chegou aqui... Passando agora, uns tempos, em Jericoacoara, reduto de turistas do mundo inteiro.
Dizem... que um dos homens mais assaltados em Fortaleza. Coisa de 50 vezes. Levam papéis, alguns livretos, desodorante, escova de dente, algumas poesias recém escritas. Morador do Terminal de ônibus do Papicu há algum tempo. Lugar seguro em Fortaleza. Por ali, no terminal, chegam alguns, quando se finda um dia e insiste em começar outro.

Fuma feito uma caipora. O bigode não nega. Bebe socialmente diariamente, tentando dar conta das demandas da street high society fortalezense. Dois meses sem beber por motivos de ordem médica.

Valter di Lascio. Como não? Tinha que entrevistá-lo.



Como que você vê sua condição de poeta marginal? Acredita nesse estereótipo?


Quem colocou esse estereótipo não fui eu. “Ah, porque você dorme no terminal”. Durmo no terminal. Durmo no terminal porque eu não tenho grana porra, só por isso. Se tivesse grana, claro que eu não ia tá dormindo no terminal. Quero escrever, não tenho condições de escrever legal. Quero trabalhar não posso. Tô querendo estudar não posso. Como que eu vou estudar no terminal? Não tem condições. Tô querendo trabalhar num projeto que são contos, fiz alguns contos e tal, mas pô, não tem condições, porra. Eu mal durmo. Eu cochilo, não durmo... Isso é uma conseqüência da própria cultura oficial porra. Se os caras não têm o hábito de ler, como toda hora eu tô escutando: “não gosto de ler”, “vixe, tem que ler?”. Quer dizer, se as pessoas não gostam de ler, não vendo. Se não vendo, não tenho como me manter. Tenho que tá na rua. Que nem agora, quero ir embora pra Jeri. O que acontece? Passo a noite, o que eu consigo de grana? Consigo de grana pra chegar no terminal comer, comprar cigarro, o básico. De manhã faço a merenda, no terminal, lógico, óbvio e vou pra rua. Vou pra Universidade, fazer cópia... Enfim, vou fazer o que eu tenho pra fazer. O que me sobra no dia seguinte é a grana pra refazer o material, às vezes não dá nem para almoçar.

A tua poesia é de subsistência?


Total, total, total... Por mim eu não venderia dessa forma que eu vendo. Por mim eu venderia o produto final, ele completo, o livro. O livro com 130 poemas, ilustrado, do jeito que foi feito.

Como tu produz esses livretos?


É feito num computador a matriz. Eu pago pra fazer, amigo meu faz, o que tiver mais fácil no momento. Se tiver dinheiro eu mando fazer, porque é aquela coisa às vezes o cara pega dinheiro pra fazer, na maior boa intenção. Porém, no entanto, o cara estuda, o cara trabalha, o cara tem a vida dele. Eu não posso ficar no pé dele cobrando: “Porra, você já fez? Quando você me entrega?”. Pô, o cara tá fazendo de graça, na maior boa vontade, e eu ainda vou ficar pegando no pé? Não é legal. Tenho que pagar. Eu fui fazer agora o cara me cobrou 1,50 por página. Depois que eu mandei fazer o cara chegou pra mim: “Porra, por que tu não falou comigo?”. Como é que eu vou saber? Eu não vou ficar perguntando de um por um, “você pode fazer?”, “você pode fazer?”. Então é feita a matriz no computador, depois tirado xerox. Custeado por mim.

Quais os pontos que tu mais vende?


Não tem os pontos que eu mais vendo, são os únicos que eu vendo. É Universidade, Ponte Metálica e Dragão do Mar.

Existe alguma coibição no Dragão do Mar?


Existe. Eu não tenho autorização. Agora que a segurança tá pegando no pé. Cheguei de Jeri agora, preciso vender, eles não tão deixando. Só pode vender na praça, se não for na praça eles vêm pegar no pé. Só nos bancos, ali eu posso vender. Debaixo do planetário eu não posso, próximo do cinema eu não posso, debaixo da passarela eu não posso. São dependências do Dragão do Mar. Onde é o limite, onde termina o Dragão do Mar e onde começa? Não sei, aliás nem eles [seguranças] sabem, é ordem superior, é ordem do chefe... Eles não questionam nada.

O que você acha desse tipo de proibição em um ponto cultural?

Totalmente imbecil. Se eu não posso vender um livro num centro que se diz de arte e cultura, porque eu não tenho a suposta autorização, eu vou vender aonde? Porra, no show do Calcinha Preta? Ou no Castelão em dia de jogo Ceará e Fortaleza? Não tem cabimento porra, invés de ser proibido devia ser incentivado. Quando eu converso isso ai com turista, o cara fica dizendo: “Porra, não pode”, se espantam. Por que que não pode? Vai perguntar pra ele porra. Nêgo vende o cacete a quatro lá, mas tem autorização. Não sei que porra de autorização é essa. Pra botar um crachazinho no peito? Não tem cabimento porra...

A tua relação com Fortaleza é opressora?

Ah sim, me incomoda. Eu não agüento mais viver em cidade grande, isso também em outras cidades grandes. Eu não consigo mais viver nessa neura. Nos meus textos, tu vai ver que tem toda uma temática urbana. Eu não consigo me imaginar escrevendo cordel, seria uma violência, seria eu massacrar o cordel. Então as informações que eu trago são outras, são influências urbanas.

Já tentou desistir da poesia?

Não, não pensei.

Por quê?

Você já pensou em parar de respirar?

Não.


Então, é a mesma coisa. É uma coisa vital. Não dá mais, chegou num ponto que não tem mais volta, agora é só continuar, onde vai dar não sei. Pelo menos não vai ficar que nem a Ponte Metálica. Espero que não, porque a Ponte Metálica é uma ponte surrealista, é uma ponte que não vai pra lugar nenhum. E não é uma ponte na realidade, porque toda ponte implica que você saia de um ponto A para um ponto B. Tem início e fim. Tá ultrapassando um obstáculo, né? Essa ponte não, ela só começa, não termina. Pra mim é um negócio surreal isso aí. Então eu não quero que meu trabalho fique assim, também interrompido, então eu vou continuando... Essa ponte minha vai continuando, aonde vai chegar não sei e não tô preocupado. O que eu quero, que fique bem claro, é paz e sossego, me deixar trabalhar sossegado, só isso porra.

Você tem compromisso com que valores?


É uma coisa que eu venho me questionando há muito tempo. O que realmente é importante pra você?

Pra mim?

Pra você que eu digo pra todos. Pra você também. Pra você é importante terminar o curso de jornalismo, ter uma profissão... Não sei se você quer carro, casa na praia, cacete a quatro. O que eu quero? Não quero carro, não quero porra nenhuma, o que eu quero é trabalhar sossegado, ter um canto pra poder trabalhar, pra poder receber meus amigos, viver um pouco dignamente. Não passar fome como eu passo, não passar sede como eu passo e isso não quer dizer luxo entendeu, continuo com minha havaiana no pé. Não quero 10 calças como eu tinha antigamente, não quero uma porrada de livros, o livro pra mim é outro lance que eu mudei meu relacionamento com ele. O que que adianta está com uma estante com uma porrada de livros apodrecendo lá se eu já li. Então, se você me dá um livro, como já aconteceu e tem acontecido, então... se você tá me dando, não espere que ele fique na minha mão. Não vai ficar. Já li? Já absorvi? Eu passo pra frente, porque eu prefiro que ele passe pra frente do que fique parado na estante. Quantas pessoas estão sendo privadas de ler enquanto ele tá privado na estante? Pessoas que não têm condições de comprar o livro. Isso é com tudo. Eu tô cada vez mais querendo o mínimo.

***

Pedi para que recitasse um poema (disponível em áudio). Insinuou um cachê para a entrevista ainda com o gravador ligado. Brincou. Queria receber em Euro. De alguma forma tinha que ajudá-lo. De alguma forma ia ter ganhos com a publicação do texto também. Dei 5 reais. Depois comprei mais dois livretos, por um real cada.

Encontrei Valter mais uma vez no terminal. Ainda tentava interar o dinheiro da passagem para Jeri. Reclamava que lhe faltava o que ler. Entreguei-lhe um livro que tinha prometido. Qualquer livro. Escolhi uma edição de bolso de “Numa fria” de Bukowski, sem atentar para a ironia do autor escolhido.

Depois, cruzei com ele mais uma vez nos arredores do Centro de Humanidades da UFC. Três vezes em pouco mais de uma semana. Como andava... Não o vi mais. Foi pra Jeri.

Sunday, November 30, 2008

FAIXA 05

Lá em casa (se esqueço)

eu, se lembro mais que esqueço,
eu se ia mais e menos ficava.
eu, se ria mais da desgraça,
eu se criava mais e menos queria.

eu, se via através de parede se virava e pulava da rede,
eu se perdia debaixo da lua, na rua, no pé do eixo profundo

e pisava mais Tu noutro mundo,
eu andava Mais tu e Menos Eu, lá em casa...

lá em casa... lá em casa...

Friday, November 21, 2008

C.L. diz:

O mundo parece chato mas eu sei que não é. Sabe por que parece chato? Porque, sempre que a gente olha, o céu está em cima, nunca está embaixo, nunca está de lado. Eu sei que o mundo é redondo porque disseram, mas só ia parecer redondo se a gente olhasse às vezes o céu estivesse lá embaixo.