Tuesday, July 10, 2007

O ontem e a infância.

Escrever sobre ontem
normalmente não
é uma tarefa fácil pra mim.

Falar, porém, de um passado
que de fato não existiu,
é naturalmente algo que
faço com maior fluidez.

Essa tendência a composição
do meu próprio tempo, e realidade, é
um traço, deveras paradoxal,
que carrego desde a infância

(Brincar de 'Que ninguém pode ver a gente',
expressão recorrente que eu e meu irmão
usáva-mos num ato de viveza,

onde nos escondíamos dos nossos pais,
debaixo da mesa, atrás do sofá, da porta,
no breu do corredor,

e, mesmo sabendo que eles nos viam,
nós dois, pra um lado e outro da casa, sabíamos dar importância
a aquela configuração de talvez estar invisível,

e poder olhar o mundo da maneira que queríamos.
Era o que nos nutria de um misto de
raciocínio e agudeza de espírito, que

até hoje sinto como uma espécie de perfume-atemporal,
que pra sempre, seduz tudo que atravessa o que é rigor e criterioso em mim,
e conduz minha infância e paz de espírito a um lugar comum).