Friday, June 30, 2006

"Quem tem consciência para ter coragem? Quem tem a força de saber que existe?..."

Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.


Paulo Leminski.

Wednesday, June 21, 2006

Ouvindo Portishead [only you].

Tela-escura.

Agora não tem poesia.
Em letras brancas e estilizadas, surge e progride verticalmente numa tela escura,
poesia alguma: um derradeiro final - estado de apogeu da ânsia, pelo Poeta imaginado
e sofrido por vaidade - para um esboçado-feliz-açucarado começo.
Aquela canção soturna - exaustivamente reproduzida em seus ouvidos - que outrora escutara
um trecho em virtude da boa e velha memória fonográfica, começava, agora, do meio pro fim, desde o início.

Sunday, June 11, 2006

Ex-fera de quatro rodas: Par polido, Par moído.

Te acalma, Victor.
"Tá dormindo", "foi ensaiar", "saiu agora", "não sei aonde".
Cuidado com o tempo, esse mal tempo massacrante:
cotidiano-esmagador, olho-achatado da visão arcana do ser - sentir.
Te acalma que falta nada pro passo seguinte. O relógio no alto estalou.
É o marco zero do teu vôo derradeiro. "Pousa em mim, que nada espero de ti".
Alivia tua ânsia no pouso e em partida - gozo do momento -, mas não te esqueces:
A viagem é uma só.

Máquina do Tempo

Você é tudo que eu tenho.....
Desde que perdi a minha tristeza!

neruda.