Monday, April 16, 2007

Espelho


espelho não mente.
não sente calor,
nem dor nas costas,
coceira não sente.

espelho não revida.
não se parte
em vários cacos-injuriados.
espelho não cura.

no chão, em pedaços,
não segura a estampa
ali madura,
do caju no cajueiro.

espelho não cria efeito-
não explica a sensação.

é de cabeça pra baixo,
o mesmo,
de uma ponta a outra,
igual.

foi com o homem que
inspirou solitária
a sua musa
na janela do avião

e para o homem
que crusou o atlântico
de barco, intacto,
embalado, debaixo de chuva.

o espelho nada percebe:
desatino fatal,
ou destino glorioso.
antigo ou novo,

reflete obsoleto
o olho cavado fora dele,
no único-rosto de vários homens,
ou homem único de vários olhos.

1 comment:

Thiago César said...

ou vários rostos!