Monday, March 20, 2006

Sonho pós-carnaval.

Era carnaval. Numa das duas casas onde a Tia Jacinta nos acomodou, eu andava de um lado para outro olhando o que os outros
estavam fazendo. Eram eles: Baby, Daniel, Cabeça, Jamille, Rafamen, Dourado, Carlim e Divino. Parecia haver "mais alguém" na
casa. Alguém cujo nome não era do nosso conhecimento, no entanto, "A pessoa" não nos era estranha nem ausente.

Lá fora, na rua, por volta das 17hrs, as pessoas começavam a se agrupar e preencher as ruas - as calçadas, agora, gozavam
solidão em sua liberdade, pois em algum ponto, desabrocharam desinteressantes, feito flor sem espinho.

Resolvemos dar uma volta. Logo defronte, pessoas e pessoas logo providenciaram ansiedade nos meus olhos.

Alexandre Frota está aqui? Nesse carvanal litorâneo entre tanta gente, no nosso carnaval?

Ele me conhece. Não ouvi pronunciar meu nome, mas eu sei. Troca uma gaiatice ou outra comigo. Seria carnavalesca?
Lhe indenizo a oferta do bom humor com humor. Seus amigos, que ao lado, em pé, estavam, riem bastante e até mais que nós.

De algum lugar escorreu por todos os cantos, a noite. Escuríssima. Somente clara, as vontades.

Em torno da Tv, na área da frente, num desses sofás que contornam a mesinha de centro da sala, entre almofadas e risos, as
horas da primeira noite passeavam conosco, de mãos dadas e passos curtos.

Outrora, ainda a tarde, observei a casa, de pé na linha do portão de entrada. Eu já havia visto a casa. Até estado nela.
Nos conhecemos em outra ocasião. Mas não num carnaval, ou praia. Nós, eu e a casa, éramos
os mesmos de antes, a vida que ali inisistia é que não.

Então, alguém força com sutileza o portão de entrada. Eu sabia que isso aconteceria. A casa e eu nos conhecíamos.
Mas como? Sem palavras ditas quase por automatismo, a alguém que queremos conosco sem precisar?

Era um ladrão. Na realidade, não era. Só mais um infeliz a mando de outro infeliz, que
acata ordens dum terceiro infeliz de raciocínio mais rápido.

Quando esse enfim arromba a fechadura, é surpreendido por mim, Daniel, Baby e Divino.
Estávamos juntos a porta de entrada, esperando entender o incoveniente.

O infeliz apovora-se. O que ele esperava? Mulheres semi-nuas, sabor jujuba, completamente eembreagadas?

Divino, o mais próximo da entrada, é surpreendido por uma gravata do Incoveniente. Na mão do pilantra,
uma tesoura de podar arbusto ajuda a estender o drama nos olhos dos que assistiam - os mais apavorados, talvez -
o episódio inusitado: Dourado, Carlim, Jamille, Rafamen e Cabeça.

A aparente existência do "sem-nome", se intensifica na momento da tensão. Eu sinto. Enfim surpreendo o ladrão e resgato o Divino,
em seguida, atinjo o braço esquerdo do infeliz com a tesoura de podar. Esse então, corre absurdamente rápido, não o alcanço.
Ele fogiu. Nós ficamos bem.

É tarde novamente. Quero encontrar algo, ou alguém, que não recordo direito. Certo apenas, me é, a falta desse "algo". Cruzo
com alguém assitindo Tv enquanto atravesso as divisões da casa, acho que é o Carlim.

Saio pela porta da frente, atravesso a calçada, prossigo caminho pela rua. Faz muito Sol mas o calor é modesto. Dobro na
primeira rua a direita, é o rumo do mar. No momento, enchergava de longe o mela-mela que dava as caras na orla.

Achei o Dourado. Sentado numa cadeira de plástico - dessas vermelhas feitas pra quebrar, e com merchan de cerveja. Ele toca
uma composição de acordes soltos sem rigor de tempo, num violão velho acomodado no colo. Acho que é o dele.

Então, ao me aproximar ainda mais, escuto ele dialogar com alguém em tom de graça, porém sério na imposição. Quem seria?
Um amigo desses antigos a quem acabamos por devotar respeito por sempre acabar ali, diante de nós, compartilhando sutilezas
e conversas que nunca terminam?

Era uma cabra azul! Os dois conversavam algo sério e mantinham uma frequência calmíssima. Não sei realmente se era uma cabra.
Acho que era mais como uma ovelha. Talvez tivessi chifres, não lembro.

Fiquei desconcertado com a imagem. Dourado conversando com uma cabra azul que talvez possuíssi chifres? (Hein?) Eu queria e sabia
que não podia rir. Ri assim mesmo. Não suportei o peso, no abdômen, no olhos...

Retruquei a cena em tom de ironia de criança precoce. "Eu tô atrapalhando alguma coisa?", disse.

A cabra, irônicamente com a áurea de quem não quer ou pode perder a esperança na boa índole dos homens, responde, "Talvez você
atrapalhe". Nesse momento, respiro um ar frio e profético enquanto o dito cabreiro ecoa nos meus ouvidos. Dourado ria sutilmente
apenas.

Continuo a caminhada até a praia. Quando haveria de achar o que me guiava até ali, e adiante? Ali? Adiante?

Chegando num aglomerado de pessoas entre alguns coqueiros, alguém me suja de maisena. Dourado, Cabeça, Divino e Carlim, de
repente seguem logo atrás, me viro bem rápido e os vejo perto.

De repente estou de pé sob um quadrado de concreto na areia. Um único quadrado, não um caminho composto por vários quadrados pra chegar
e ir a algum lugar. O barulho agora está longe. Ainda vejo as pessoas, porém menores, e não as ouço. Ainda é a mesma praia, o mesmo Sol. Só não
é o mesmo, o vento. Sinto que entre os meus dedos tecem constantes luvas, que vez ou outra, devem revestir e proteger parte do mundo de uma ameaça
invisível.

Uma imagem infante parece me dizer que ainda não achei o que estava procurando, ou o que me procurava. Maior agora, sentia a
mistura de uma nova busca e descoberta que iniciava ali.

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